Hand Spinners e a moda
Você com certeza já viu por aí um Hand Spinner. Aquele dispositivo girante que está por aí nas mãos de praticamente qualquer criança e muitos adultos. Aqui em Minas conhecemos ele também pelo carinhoso nome de “Troço que Gira”. Tem de todos os tipos. De plástico, de madeira, com um rolamento, com vários, coloridos, com luzinhas e até alguns que fazem barulho. E tem tanta gente praticando que a coisa toma ares profissionais, com manobras e competições de quem gira mais ou faz o movimento mais impressionante!
https://www.youtube.com/watch?v=6lo-F7YQe9A
De tempos em tempos alguma coisa assume a posição de dispositivo da moda. Sem querer entregar demais a idade, mas aqui no Brasil já tivemos Ioiôs e bolinhas da Coca-Cola, Tamagotchi, Bate-Bate de bolinhas e Tazos. Todos esses permaneceram algum tempo como preferidos do pessoal, mas depois acabaram caindo no esquecimento. Só retornam nas conversas saudosistas ou quando são encontrados no fundo de caixas velhas guardadas. E os Hand Spinners têm tudo para seguir o mesmo destino, daqui algum tempo.
Mas outra coisa que muitas dessas modas têm em comum é que sempre alguém levanta um benefício que ela traria. Me lembro bem que especialistas diziam que os Tamagotchis desenvolveriam o senso de responsabilidade e cuidado das crianças. E com os Hand Spinners também está acontecendo a mesma coisa. Não é preciso procurar muito para encontrar vários textos por aí dizendo que os brinquedinhos girantes podem aumentar a concentração, ajudar a aliviar as tensões e inclusive ajudar pessoas com autismo. Mas será mesmo?
Os Fidgets
Talvez você nunca tenha ouvido essa palavra, mas com certeza já a praticou por aí. Sabe quando uma pessoa fica batendo o pé no chão ou apertando o botão de acionamento das canetas quando está nervosa? Então, esse movimento repetitivo é conhecido por esse termo em inglês, Fidget. Sua tradução mais direta pode ser “inquietação” ou “agitação”. Novamente, aqui em Minas conhecemos isso por “siricutico”. Todos já sentimos isso quando estamos apreensivos. Outros exemplos de fidget são quando a pessoa, sentada na cadeira, fica girando ou balançando a cadeira nos pés traseiros, quando alguém fica mordendo o lápis ou mesmo quando está tamborilando os dedos na mesa.
Parece coisa boba, mas há muitas pessoas por aí que realmente se sentem melhores quando estão fazendo esses pequenos movimentos repetitivos. E isso assume formas tão relevantes que ano passado uma empresa lançou uma campanha no Kickstarter para arrecadar fundos e poder lançar um pequeno cubo com vários botões e dispositivos apenas para as pessoas ficarem apertando e rodando. Eles pediram inicialmente 15 mil dólares, mas a procura foi tão grande que eles arrecadaram aproximadamente 6,5 MILHÕES de dólares! Isso é realmente muita coisa! Foram praticamente 155 mil pessoas que se interessaram pelo dispositivo, que “não faz nada” e apenas tem botões para serem apertados e rodinhas para serem giradas. Se você se interessou, pode comprar diretamente no site da Antsy Labs.
Mas apesar do grande sucesso, praticamente não há evidências de que dispositivos para fidget tenham realmente alguma efetividade. Um estudo de 2015 pesquisou a influência de movimentos repetitivos para a concentração. O resultado foi que algumas pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade realmente tiveram ganhos quando realizam os movimentos, mas pessoas sem o transtorno não tiveram ganho nenhum e algumas até pioraram o desempenho!
Mas o que isso tem a ver com os Hand Spinners?
Os spinners entram justamente nessa categoria de dispositivos para fidget. Pela repetição de ficar girando o trequinho, as pessoas se beneficiariam dos mesmos resultados de apertar o botão da caneta ou ficar batendo os dedos na mesa. Mas acontece que não é exatamente isso que os estudos comprovam. Na verdade, em relação especificamente aos spinners, não há estudos sobre o dispositivo, provavelmente porque a moda é tão recente que ainda não deu tempo de realizar ou publicar um estudo a respeito. O spinner não é exatamente novo, mas a febre tem poucos meses. Por isso, fazer propaganda desses benefícios é mais uma jogada de marketing dos fabricantes do que realmente uma verdade científica. Combinado a isso há também o fato de que muitas pessoas buscam curas ou tratamentos milagrosos para os problemas. É totalmente compreensível que pais de crianças com autismo ou TDAH queiram que seus filhos melhores seus desempenhos e tenham condições de superar algumas das características que lhes prejudicam. Aliás, isso é compreensível em qualquer pai. Mas é fundamental que se saiba que milagres raramente acontecem e, quando acontecem, não são vendidos em camelôs.
Mas então gastei dinheiro à toa
Não! Calma! Não somos mensageiros do Apocalipse! =]
Apesar de não haver comprovação científica de que eles diminuem o stress ou melhoram a concentração das pessoas, os spinners ainda são brinquedos como os outros e podem realmente distrair a criança. Além disso, há um efeito muitas vezes ignorado das modas. Quando aderimos às modas e praticamos o que todos estão fazendo, nós nos sentimos parte do meio. Como o Átila explica nesse vídeo extremamente didático a respeito desse assunto, todos queremos fazer parte do grupo. Somos animais sociais e precisamos socializar. Estar dentro da moda dos spinners nos coloca no grupo. E diga aí se tudo que nós mais queremos não é que as pessoas com deficiência sejam realmente incluídas no grupo? Por que não aproveitar essa moda para fazê-las se incluir um pouquinho mais? Tudo, é claro, com consciência e desde que não prejudique outras áreas. Uma moda saudável, que faz as pessoas estarem juntas e se sentirem iguais aos outros pode ajudar muito, tanto na autoestima da criança com deficiência, quanto no entendimento das outras pessoas quanto a ela. Além de se sentir parte do grupo, é importante o grupo sentir que ela é uma igual, faz as mesmas coisas e está junto com eles como qualquer outro.
Então, não há problema nenhum em brincar com um spinner. Ele pode não ajudar muito na concentração e na ansiedade, mas pode ter outros benefícios sociais que talvez estejam passando despercebidos!
Saiba Mais!
Esse artigo conta um pouco da história do Hand Spinner (ou Fidget Spinner, como eles chamaram).
Já essa reportagem do Boston Globe tem uma entrevista com uma pesquisadora que é muito interessante. Ela está em inglês!
Um sonhador que acredita que o mundo pode ser melhor do que é! E nesse mundo melhor cabem todas as pessoas, juntinhas e sem exceção! Adora Senhor dos Anéis, Star Wars, C. S. Lewis e viajar! E claro, gosta muito de um bom papo!