Há algo me preocupando e que tenho visto cada vez com mais frequência.
Que estamos vivendo um mundo em que as crianças é que mandam nas casas, disso acredito que ninguém tenha dúvidas, mas a falta de limites em crianças com algum tipo de deficiência é algo que tem me chamado muito atenção.
Recentemente presenciei uma cena e quero compartilhar aqui. Algumas crianças estavam brincando em uma cama elástica e eu estava acompanhando. Um menino com síndrome de Down bateu bem forte em uma outra menina que estava brincando com ele, eu chamei sua atenção e a irmã, que também estava brincando junto e não tem a síndrome me disse assim: “Não adianta ficar brava com ele, ele está com mania de bater nos outros e é por causa da síndrome”. Essa é só uma das histórias que presencio diariamente em que se culpabiliza a deficiência por algo que não tem relação nenhuma com ela. Certamente essa menina ouviu isso da mãe e estava reproduzindo. E isso é mais preocupante ainda!
Vivemos em um cenário que cada vez mais as crianças controlam os pais e têm tudo o que querem. É cada vez mais comum ver uma criança fazendo birra e conseguindo o que quer, aí você ouve do pai ou da mãe, “tem que ser assim se não ela dá um show aqui”. Anh? Já ouvi inclusive comentários do tipo: “Filho, não faz isso na frente dela, ela é psicóloga”.
Já vi também a própria pessoa com deficiência, nesse caso já sendo adolescente, não querer fazer algo na escola e dizer que ela não precisava pois ela tinha Down.
Bem, vamos ao assunto: Criança com deficiência também precisa de limites em casa! Esse é o ponto em que quero chegar.
A deficiência não pode ser desculpa para falta de educação!
Uma grande parte dos casos (só não me arrisco dizer grande maioria porque não tenho estatísticas oficiais sobre isso, mas das que convivo ou atendo posso dizer que é maioria esmagadora) das crianças com alguma deficiência são superprotegidas pelos pais e responsáveis, talvez por um sentimento de culpa, talvez pela herança histórica de supor que crianças com deficiência não aprendem ou talvez ainda por terem depositado tanta expectativa sobre aquele filho e haver uma certa frustração ao saber do diagnóstico. Mas na verdade não quero falar sobre as causas da falta de limite nesse momento, quero fazer um alerta aos pais e dar algumas dicas para que isso não aconteça na sua casa.
Como devo proceder então?
Bom, vou dar aqui algumas dicas para ajudar vocês pais nessa tarefa.
1- Suas ações devem girar em torno das potencialidades dele e não das limitações. Quais as expectativas que você coloca sobre seu filho? Pense no que veio à sua mente como resposta. Será que seu filho não consegue muito mais do que você imaginou pra ele? Entender que ele pode ir além é o primeiro passo para deixar a superproteção um pouco de lado e adotar apenas a proteção saudável que os pais devem exercer.
2- Ele entende, mesmo que não fale! Há várias maneiras de se comunicar, não apenas oralmente, e muitos acham que pela falta da oralidade a criança ou adolescente não acompanha o meio ou não vai entender o que está acontecendo. Não se engane! Eles podem estar entendendo tudo o que está ao seu redor. Por isso, é importante tomar cuidado com o que fala, para não tirar a autoridade da professora, do pai ou da mãe, de outro cuidador ou mesmo estimular comportamentos inadequados. E pode ter certeza de que as crianças estão atentas a tudo que acontece ao redor delas!
3- Procure bons profissionais e ouça-os! Sei que é muito difícil ouvir do outro que você está errando na educação do seu filho, mas é papel deles te orientar em relação a algumas atitudes nesse sentido também. Não tenha receios de buscar ajuda. Todos precisamos de ajuda uma hora ou outra e sempre podemos aprender um pouco com o outro.
4- Observe a reação dos outros em relação ao comportamento do seu filho. Quando muita gente comenta, chama a atenção ou simplesmente vai afastando do convívio, pode ser sinal de que a falta de limite dele está incomodando tanto que é preciso ter atitudes assim. É claro que não estamos falando de aceitar o preconceito dos outros, e talvez seja necessário bastante sabedoria para separar as coisas. Mas essas reações podem ser sinais muito úteis! Saiba identifica-las, separá-las do preconceito e aplicar as correções necessárias!
5- Não faça tudo o que ele quer. Todas as pessoas vão ouvir “não” muito mais vezes do que “sim” no decorrer da vida. Isso é normal e não mata ninguém. Seja firme! Mesmo que doa muito dizer não, a resposta negativa certamente contribuirá para o amadurecimento dele. E saber conviver com o não é parte fundamental da vida de todos nós. Isso ajuda a lidar com as frustrações e a buscar alternativas para a resposta negativa.
6- Dê atenção, dispense um tempo de qualidade com eles. A criança ou adolescente pode estar se comportando mal por ser o único momento em que você dá atenção a eles. Mesmo que seja pra ficar bravo pode ser a única hora que você para o que está fazendo, olha no olho dele e fala com ele. Uma situação assim também é muito triste. Não faça dos únicos momentos com seu filho os momentos de briga e chamada de atenção! E dar mais tempo para o seu filho pode ser ainda mais benéfico para você! Lembre-se, tempo de qualidade faz bem para toda a família, não só para os filhos!
7- Ouça o professor. Uma questão importante é saber se há diferenças significativas no comportamento da criança na sua presença e longe de você. Se há essa diferença, com certeza há algo errado e que precisa ser avaliado. Também é importante entender como ele trata os coleguinhas, os professores e outras pessoas da escola. Para essas situações o professor pode ser um grande aliado! Não encare ele como um adversário! A parceria com o professor é um excelente caminho tanto para ajudar no comportamento quanto no desenvolvimento do seu filho!
8- Seja você a autoridade. Não jogue para outros a responsabilidade que é sua. Frases como “não vai porque tem um bicho lá”, “vou chamar seu pai/mãe” ou “vou contar isso pra fulana” não devem ser ditas. Você pode e deve ser autoridade por si só, você é o responsável por eles. As crianças devem entender que precisam ouvir e respeitar os pais por quem eles são e não porque há um monstro ou o velho do saco que quer isso. É claro que isso precisa ser alcançado sempre respeitando a criança, sem abusos, mas é necessário que fique clara essa autoridade para a criança.
9 – Não faça ameaças que você não vá cumprir. Já ouvi mães falando “não faz isso senão mamãe vai embora” e “se você continuar gritando a mamãe vai te dar pra fulano”. Essa é uma outra forma de evitar tomar para si a autoridade. Mas esse tem uma vida útil ainda menor, pois a criança logo percebe que a ameaçada não será cumprida. Pode não parecer, mas a criança testa os limites dos pais. Se você disser que vai embora, ela vai parar de chorar imediatamente na primeira vez. Mas a partir daí ela vai começar a experimentar até onde ela pode ir sem que o pai vá embora. E um dia ela descobre que o pai não vai embora nunca. Nesse dia, essa desculpa para de funcionar de vez, e possivelmente todas as outras.
Fechamos com nove dicas bem importantes pra você pensar sobre o limite em casa, tenho certeza que se você segui-las terá um resultado bem positivo. Mas se não conseguir colocar em prática nossas dicas, procure a gente, nós podemos te ajudar.
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Inconformada com o preconceito e com uma educação não inclusiva tenta todos os dias fazer algo para que isso seja diferente. Mais que um valor moral, tornou isso sua profissão. Apaixonada por educação e inclusão. Sonha em viajar o mundo e num mundo que não seja mais preciso falar em inclusão, pois a inclusão pressupõe a exclusão.