A série Atypical e o que ela tem a nos dizer sobre a sobrecarga de cuidadores
Mais uma semana que se finda e como de costume, mais um texto por aqui. Esse é o terceiro post nosso sobre o que a série Atypical da Netflix tem a nos dizer. Não viu os outros ainda? Vale a pena ver, no primeiro texto falamos sobre o que é ser irmão de uma PcDs e no segundo comentamos um pouco sobre negação e abandono de pessoas com deficiência, focando no pai de Sam. Hoje o personagem foco da série é a mãe do garoto e vamos conversar um pouco sobre cuidadores sobrecarregados. Um assunto tão presente no cotidiano das famílias e às vezes pouco lembrado pela sociedade.
Vale lembrar que assim como no segundo texto, nós estamos usando a figura materna para falar sobre o assunto pois estamos aproveitando a série para discutir esse tema que é tão importante, mas a sobrecarga de cuidadores não diz respeito apenas às mães, mas sim a todos aqueles que cuidam e são os responsáveis na prática pela pessoa com deficiência, ok?
A semana passada ouvi o relato de uma mãe que disse o seguinte: “Perdi minha identidade, não sou mais a Fernanda, sou a mãe do Lucas” (os nomes foram trocados para preservar a identidade deles), não vou mais ao cabelereiro, não saio mais, não tenho momentos meus, vivo totalmente para ele”. Essa é a realidade de muitas mães por aí e é exatamente isso que a série relata. De uma maneira muito real a sobrecarga da mãe é trazida em várias cenas. Vamos relembrar algumas?
“Às vezes eu não consigo relaxar, me preocupo demais com as crianças”, essa é uma das falas dela que retratam o seu sentimento. As cenas em que ela está no bar também tem algumas falas nesse sentido, como “Já escapei o suficiente da minha vida real”.
Na reunião do grupo quando ela relata a ida ao bar ela fala: “Nesse bar, pela primeira vez, provavelmente desde que o Sam foi diagnosticado, eu não estava assustada e não me preocupei, eu estava me divertindo com um grupo de estranhos que não tinha nada a ver com o autismo”. Pelo relato dela também é possível perceber que chama atenção dela o fato de o barman ter uma vida arriscada e solta, sem compromissos com nada e nem ninguém. É possível perceber um desejo dela de viver uma vida assim por causa da expressão facial dela quando o Nick diz que faz as coisas quando ele quer e do jeito que ele quer.
Outra cena marcante é quando ela conversa com uma amiga e o assunto começa a ser sobre a vida dela. Ela rapidamente desvia o assunto para os filhos autistas. Até as conversas com as amigas giram em torno do autismo!
Ela tem uma rotina toda voltada para o cuidado com o filho e com a família, abandonou sua profissão, é ela quem organiza toda a casa, faz comida, lava roupas. Tem uma lista de tarefas, que organiza por cor as prioridades e faz sua rotina em torno disso. Há uma cena que ela vai verificar o quadro de atividades e percebe que está sem tarefa para o dia seguinte, isso a incomoda e ela compartilha com o grupo de apoio, ela diz não saber mais quem ela é, “eu não sei mais quem precisa de mim”, sente que perdeu a própria identidade quando as pessoas pararam de depender dela”. “Eu não sei o que esperar. Tudo está mudando e eu não sou muito boa sem minha rotina”.
Ela se incomoda também com a falta de reconhecimento do que ela faz pelo filho e pela família. Quando ela pergunta a eles se alguém precisava de algo do shopping e ninguém responde, ela mesma responde sua pergunta dizendo: “Não, mãe, obrigada por tudo o que você faz por nós”. E se sente sozinha no que faz, é possível perceber o quanto ela fica incomodada quando o marido usa o plural para se referir ao preparo do jantar e ela olha pra ele e responde: “Sim, Nós fizemos!”
São muitos os estudos científicos que tratam da sobrecarga de cuidadores, essa é realmente uma questão bastante complicada. E você? Também se sente sobrecarregada com os cuidados de seu filho?
Mesmo sabendo que é bastante difícil para alguns pais lidar com essa questão, nossa indicação é para que se esforcem para dividir tarefas com outras pessoas, que se esforcem para que tenham seus momentos e que na medida do possível pensem em vocês mesmos. Sei que muitos podem dizem: “fácil falar quando está de fora”, sei o quanto é difícil quando temos alguém totalmente dependente de nós, mas é importante que tentem, que reflitam como é possível na sua realidade dividir a tarefa de cuidar do outro? O auto-cuidado é essencial para nossa saúde física e principalmente emocional.
Que tal se na tabela de tarefas atividades forem divididas para todos na família? Enquanto um leva na escola, o outro busca? Ou quem sabe um prepara o almoço e o outro lava a louça? Pode parecer óbvio para muitos que as atividades precisam ser divididas, mas é surpreendente a quantidade de lares onde apenas uma pessoa se responsabiliza por todo o planejamento e também a execução das tarefas. Se a resistência estiver muito grande a uma divisão maior, comece dividindo as atividades mais simples. Qualquer pessoa consegue ir na padaria comprar pão ou lavar a louça. Com o tempo e o hábito, vai ficando mais fácil passar atividades como administração de remédios e acompanhamento em tratamentos. Não só as pessoas vão aceitando melhor essa divisão como você também vai adquirindo mais confiança nelas e se sentindo mais à vontade para passar as responsabilidades.
É fundamental que não ocorra a sobrecarga para que se possa manter a saúde mental e emocional, que são importantes para todas as pessoas! Todos merecem estar bem de corpo e mente!
E não esqueçam que vocês não estão sozinhos, estamos com vocês nessa luta. Entre em contato com a gente, continue acompanhando nossas redes sociais e o blog também. Estamos dispostos a te ajudar e fazer por você o que você não consegue fazer sozinho! E por aqui a gente encerra nossa série de posts sobre Atypical. Na próxima semana a gente continua com outros temas também superbacanas por aqui.
Inconformada com o preconceito e com uma educação não inclusiva tenta todos os dias fazer algo para que isso seja diferente. Mais que um valor moral, tornou isso sua profissão. Apaixonada por educação e inclusão. Sonha em viajar o mundo e num mundo que não seja mais preciso falar em inclusão, pois a inclusão pressupõe a exclusão.